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Veterano americano troca o “sonho americano” por nova vida no Rio: “Aqui, meu dinheiro rende e sou mais feliz”

Veterano americano troca o “sonho americano” por nova vida no Rio: “Aqui, meu dinheiro rende e sou mais feliz”

Após anos servindo às Forças Armadas dos Estados Unidos e sonhando em viver no exterior, o veterano Christopher Boris, natural de Nova Jersey, enfim decidiu dar um passo ousado: deixar para trás o que chama de “peso do sonho americano” e recomeçar a vida no Brasil.

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A mudança, concretizada em 2024, foi motivada pelo alto custo de vida nos EUA e pelas dificuldades financeiras enfrentadas desde sua aposentadoria. Morando em Maryland, Boris conta que chegou a um ponto insustentável.

“Eu já não conseguia mais pagar a hipoteca nem as contas de casa”, relata. “Foi difícil. Eu vivia com o benefício de invalidez do VA [Departamento de Assuntos de Veteranos]. E pensei: ‘Acho que meu dinheiro pode render muito mais fora do país.’”

Do sonho americano ao recomeço brasileiro

Ao lado da esposa boliviana, Maria Jesus, e do filho caçula Andrew, de 24 anos, que trabalha remotamente, Boris desembarcou no Rio de Janeiro em julho de 2024. A escolha não foi por acaso: o casal já havia vivido no Brasil entre 2007 e 2008, e a lembrança positiva do país pesou na decisão.

“Optamos pelo Rio por causa da qualidade de vida. Já conhecíamos o sistema de saúde, os serviços, e sabíamos que seria possível viver com conforto”, explica.

O casal vendeu a casa de três quartos nos EUA “do jeito que estava” — não havia mais verba para reformas — e se instalou em um apartamento de um quarto no bairro do Leblon, zona sul carioca, a poucos minutos das praias de Ipanema e Copacabana.

Estilo de vida mais leve e comunitário

A adaptação foi rápida. Boris destaca com entusiasmo a praticidade do novo estilo de vida.

“Não precisamos de carro. Dava para resolver tudo a pé ou de táxi: mercado, padaria, restaurante, barbearia... tudo a poucas quadras de casa.”

Mesmo sem fluência total no português, o veterano diz ter sido bem recebido pelos vizinhos e destaca o forte senso de comunidade.

“As pessoas aqui são mais amigáveis. Existe um calor humano que não sentia mais nos Estados Unidos. Lá, tudo gira em torno de dinheiro. Aqui, o foco está nas relações, em construir amizades.”

Hoje, o português de Boris evolui dia após dia, ainda que, segundo ele, o português coloquial seja um desafio:

“Se falam direto comigo, eu entendo. Mas, às vezes, escuto conversas ao lado e não pego quase nada”, ri.

Uma vida mais acessível — e com chinelos

Com visto de turista inicialmente, Boris deu entrada no visto de aposentado, disponível para maiores de 60 anos com renda mensal a partir de US$ 2.000 (cerca de R$ 11.200). Um dos obstáculos burocráticos? Conseguir tirar as digitais exigidas pelo FBI, mesmo longe dos EUA.

“Preciso resolver isso para a próxima renovação”, admite.

Enquanto isso, aproveita o novo cotidiano. Se antes vestia roupas típicas do clima americano, hoje anda quase sempre de chinelos Havaianas — “viraram meu calçado do dia a dia”, brinca.

O orçamento, agora mais leve, garante tranquilidade. Ele estima uma economia mensal de cerca de US$ 1.000 (R$ 5.609) apenas com aluguel. A alimentação também é mais barata e saudável:

“Com US$ 2, faço um lanche com bebida. Compramos carne fresca duas ou três vezes por mês. Nada de congelado.”

Segurança e realidade social

Consciente das desigualdades brasileiras e dos desafios da segurança pública, Boris segue atento.

“Tem bairros que é melhor evitar. Mas, curiosamente, as pessoas mais incríveis que conheci vivem em comunidades de baixa renda”, conta. “Infelizmente, há áreas controladas por traficantes, mas isso não define a maioria.”

Ele reforça que nunca se sentiu realmente ameaçado, mas prefere permanecer em zonas mais seguras.

Vida social, futebol e noites de conversa

Hoje, Boris vive um cotidiano que jamais experimentou nos EUA.

“Lá, era só trabalhar, voltar pra casa e pronto. Aqui, tenho mais interação social do que nunca.”

À noite, ele se reúne com amigos no bairro, incluindo seu barbeiro e comerciantes locais. Gosta de conversar, ouvir música e, segundo ele, fumar um pouco — o suficiente para ganhar o apelido de “chaminé”.

Apaixonado por futebol, se tornou torcedor do Flamengo e já assistiu a uma partida no Maracanã.

“Quero ir a muitos outros jogos. É uma paixão nova que encontrei aqui.”

Um novo lar — e sem saudades do antigo

Menos de um ano após a mudança, Boris já não se imagina morando em outro lugar.

“Gosto da arquitetura, das praias, da natureza, do Cristo, da Lagoa. É tudo lindo.”

Apesar de viver a poucos minutos do mar, ele confessa que nem vai à praia todos os dias.

“Às vezes fico três, quatro dias sem pisar na areia. Mas só de saber que está ali, ao meu alcance, já é incrível.”

Ele ainda visita os EUA uma vez por ano, mas garante: voltar definitivamente não está nos planos.

“É um alívio não ter mais que lidar com o peso financeiro de antes. Aqui, encontrei mais do que estabilidade. Encontrei paz.”

*Por : redação Info Botucatu | Para CNN Travel

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